sábado, 18 de junho de 2011

Sorriso de palhaço

Tristes são os que usam máscaras para animar os outros, escondendo uma cara de amarguras, vidas cansadas e difíceis. Cada traço conta uma história, outro mais acentuado retrata uma desilusão. Sente a pela a estilhaçar, não do desgaste da idade, sim de várias lágrimas que de dia lhe percorrem a cara, como um rio que se enche numa tarde de dilúvio. Olha-se ao espelho e vê as linhas preenchidas,ou as rugas, como diz aos outros para os fazer rir. Apenas vê o reflexo de imagens, como se de um filme antigo se trata-se, mas com imagens de cores vivas. Sobressai a angústia do que podia ter feito se não fosse a direcção que o fez enveredar por aqui.
Sente-se arrependido?
- Não sei! Exclama.
Visivelmente, nota-se a incerteza na sua resposta. Não insisti, não queria ser um desses slides que ele vê quando se olha ao espelho.
Contundo, não descura de fazer os outros sorrir.
Isso dá-lhe alegria, preenche-lhe aquele pedacinho no coração e reconforta-o?
-Sim, ver o brilho nos seus olhos faz-me sonhar que eu também poderia ter sido assim, naquela idade. Os sonhos é que nos fazem viver,mesmo os impossíveis. Mas até esses inalcançáveis levam-me a um sítio onde me sinto bem.
-Vou contar-lhe uma breve história de quando ainda era pequeno e dava os meus primeiros passos na minha profissão.
- um dia no final de tarde, estava sentado num banco de jardim a admirar todos aqueles meninos a brincar com os seus avós, pais e amigos.
Sentou-se um senhor bem parecido e perguntou-me porque não estava a brincar junto deles. Limitei a responder que não me apetecia. Ele olhou para mim e disse-me:
-Não penses que por estares aqui sozinho, com um sapato que tem a sola descolada e a roupa gasta que eles não brincam contigo. De certeza que tens muitas coisas boas para lhes mostrares, não importa como estás vestido.
-Vem comigo, vou apresentar-te o meu neto. Ele terá muito gosto em te conhecer.
Vejo como está emocionado a relembrar essa memória.
- Como vês, estão todos felizes por te conhecer. Mostra-lhes uma coisa que saibas fazer, além de baloiçares e dares uns chutos numa bola.
-Assim que ele me falou nisso, chamei-os e formei uma plateia com 3 meninos outros 3 eram os meus parceiros. Contei umas frases engraçadas que já tinha aprendido e demonstrámos à nossa mini plateia o nosso acto. Como qualquer miúdo fartaram de rir. Foi um final de tarde dos mais felizes que tive.
No fim, o senhor dei-me o seu chapéu de Charlot e disse-me:
-Não importa como nos apresentamos, mas sim como mostramos aos outros como podemos os fazer felizes e ver muitos sorrisos sair das suas caras com coisas simples.
Fez-me sentir que era alguém. Nunca ninguém me tinha dito isto.
Ainda hoje guardo o seu chapéu como amuleto.
São poucas as histórias sobre ele, que o fazem emocionar. Muitas outras o fazer libertar um sorriso subtil no seu rosto. Despede-se de mim com um sorriso, e diz-me : - Continua sempre a sorrir, não te percas no medo da vida.